quarta-feira, 6 de abril de 2016

50. Melhor ou Mais bem


«Os doentes nesses centros [de referência] são melhor tratados […]»; «[…] os profissionais, altamente diferenciados, que estão nesses centros […], são as pessoas melhores preparadas não só para investigar mas também para poder ensinar […]»

Um médico e cirurgião oncológico referiu, numa curta intervenção televisiva, e por duas vezes, as expressões: «melhor tratados» e «melhor preparados». Na segunda vez – pior – até tentou fazer concordar o «melhor» com o sujeito, as «pessoas melhores» para aquela função, o que deveria fazer soar o alarme para este uso espúrio de «melhor».

«Melhor tratado» tal como «melhor preparado» são expressões que continuam a ser usadas com frequência no que me parece ser uma clara manifestação de hipercorreção. E não estão sequer corretas. Melhor é grau comparativo e superlativo de bem quando modifica o verbo em tempos simples, tal como acontece com as frases: «Os centros de referência tratam melhor os doentes do que os hospitais comuns» ou «Os centros de referência portugueses são os melhores da Europa». Mas a anteceder o particípio passado deve-se usar «mais bem», de onde as frases acima transcritas deveriam ficar:
«Os doentes nesses centros [de referência] são mais bem tratados […]»; «[…] os profissionais, altamente diferenciados, que estão nesses centros […] são as pessoas mais bem preparadas não só para investigar mas também para poder ensinar […]».
Se, aliás, pensarmos como foram formados os adjetivos bem-parecido, bem-educado, bem-comportado, bem-visto e tantos outros, em que o elemento bem- integra a sua composição, poderemos, por analogia, eliminar as dúvidas que subsistam relativamente ao uso de melhor e de mais bem.

domingo, 3 de abril de 2016

49. Penaltis ou Penáltis


«[…] a prolongamento ou a penaltis».

TVI24, 24 de março de 2016, 8h41.

Não é assim tão «grave» mas a palavra penálti é uma palavra grave, isto é, com acento tónico na penúltima sílaba. Segundo as regras da acentuação, as palavras graves terminadas em i têm acento gráfico na sílaba tónica, pelo que, naquelas legendas, reproduzindo as declarações do treinador Quinito na homenagem da Associação Nacional de Treinadores de Futebol, teria de ser grafado «penáltis» e não «penaltis».

Foi a angústia do jornalista no momento do penálti…

domingo, 20 de março de 2016

48. A moral ou O moral


«[a jornalista, referindo-se à equipa do Sporting] vamos ver como está a moral das tropas […]»; «já vamos ouvir Jorge Jesus sobre a moral das tropas […]»; «temos ainda que recuperar a declaração do treinador do Sporting, que eu ia lançar há pouco, sobre a moral das tropas […]»
TVI 24, Mais Futebol, 11 de março de 2016, 22h18, 22h19, 22h31. 

Pelo menos na parte que vi do programa, a jornalista repetiu três vezes a expressão «a moral das tropas». Na aceção das frases acima transcritas, teria de ser «o moral» – substantivo masculino – que significa estado de espírito, ânimo, disposição – e não «a moral» – ou seja, os princípios, as regras, os valores de conduta.

Moral da história: atenção ao género do substantivo sempre que falamos de moral...

sábado, 19 de março de 2016

47. Operação «Spring Break» ou Férias da Páscoa


A GNR decidiu batizar a operação de prevenção da sinistralidade automóvel dirigida aos estudantes finalistas que se deslocam no período da Páscoa, sobretudo para Espanha, de «Spring Break». Podia ser simplesmente operação Férias da Páscoa, operação Férias da Primavera, operação Pausa da Primavera, ou o que lhes desse na bolha, em língua portuguesa, mas não, «Spring Break» é que lhes pareceu bem... O uso do inglês dá logo à operação um ar «internacional», cosmopolita, quiçá mesmo uns fumos de nobilitação «cultural» que eliminem de vez quaisquer resquícios do estereótipo que os GNR - aqui a banda musical - consagraram numa velha letra... Não quero ser linguisticamente correto ou linguisticamente demagógico - até porque é patente a disseminação do inglês como língua de comunicação internacional - mas ocorre-me pensar: alguém imagina a Scotland Yard ou a NYPD (Departamento de Polícia de Nova Iorque) batizarem uma operação sua de Férias da Páscoa ou o seu equivalente noutra língua qualquer?!...

domingo, 13 de março de 2016

46. Sob ou Sobre (3)


«[comentando a demissão do presidente do CCB pelo ministro da Cultura]: sendo uma associação privada de utilidade pública não é propriamente uma instituição sobre a superintendência direta do titular da pasta da Cultura».
SIC Notícias, «A opinião de Bagão Félix», Edição da Noite, 2 de março de 2016, 22h24.

O CCB está «sob», ou seja «debaixo de», a dependência ou a superintendência do ministro da Cultura, e não «sobre». As preposições «sob» e «sobre» são antónimas: «sobre» reporta-se com frequência a uma posição de superioridade relativamente a algo («por cima de») e «sob» a uma posição de inferioridade («por baixo de»). «Sob» provém da preposição latina «sub», «sobre» provém da preposição latina «super». «Sub-» como prefixo ou elemento de composição surge em palavras como: subaquático, subterrâneo, subsolo, subalterno, subjugar, submeter, submergir; e «sobre-» em palavras como sobreloja, sobrecapa, sobreabundância, sobrenatural ou sobretaxa.

sábado, 12 de março de 2016

45. Contato ou Contacto


«Dirija-se à caixa automática para pagamento ou contato com a EMEL».

Um destes dias, no parque de estacionamento junto à estação de Metro de Entrecampos, dei com o aviso da EMEL, cujo texto se reproduz acima. Ora, a palavra «contacto», em Portugal, é grafada com a sequência interior «ct», uma vez que a consoante «c» é pronunciada. O mesmo acontece com todas as formas do verbo «contactar». Registe-se, porém, que já tenho notado, mesmo em Portugal, não no substantivo «contacto», mas nas formas conjugadas do verbo «contactar», quiçá por influência de programas e canais e brasileiros, algumas oscilações de pronúncia. 

terça-feira, 8 de março de 2016

44. Interviram ou Intervieram. Tinhemos ou Tenhamos


«Muitos dos deputados e das deputadas que interviram. […] E aqui tinhemos a humildade de perceber os números e tinhemos a humildade de construir um projeto coletivo com todos os portugueses».
Ministro da Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, na Audição Parlamentar N.º 10-CEC-XIII, a 29 de fevereiro de 2016.

É, infelizmente, frequente ouvir «interviu» por «interveio» e «tenha-mos» por «tenhamos» mas «interviram» por «intervieram» e «tinhemos» – ainda por cima com direito a repetição – por «tenhamos» são, para mim, uma inusitada novidade. Acresce que ambos foram ditos pelo ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior numa recente audição parlamentar…