terça-feira, 3 de maio de 2016

57. Ansiólitico ou Ansiolítico


«Prescrição de ansióliticos»...»
Jornal da Uma, TVI24, 3 de maio de 2016, 14h02.

É palavra muito em voga hoje em dia, de onde, pela «habituação», a acentuação já não deveria falhar. A sílaba tónica é «lí» e não «o». Teria, pois, de ser grafado «ansiolítico», e não «ansiólitico». Basta, aliás, por analogia, pensar em «lítico», para se intuir da implausibilidade daquele acento.

segunda-feira, 2 de maio de 2016

56. Canasta ou Canastra


«Vendiam peixe com a canasta à cabeça» (vertical 4)
Palavras Cruzadas, Expresso, Revista, n.º 2270, 30 abr. 2016, p. 104.

A palavra era Varinas, mas o que a varina leva à cabeça é a «canastra», ou seja, o cesto, e não a «canasta», isto é, o jogo de cartas.
Para além da confusão, advinda da paronínima, são palavras de grafia próxima mas de sentido diferente, o mais curioso é o erro existir justamente num jogo de palavras...

domingo, 1 de maio de 2016

55. Palissada ou Lapalissada


Fazendo a antevisão do FCP-Sporting:
«Quem ganha, ganha mais coisas. Quem perde, perde mais coisas. Isso é uma verdade palissiana».
José Peseiro, Notícias 24, TVI24, 30 de abril de 2016, 9h07.

No caso em apreço, teria de ser «lapalissada», ou quando muito «lapaliçada», uma vez que a palavra provém do nome do militar francês Jacques II de Chabannes, mais conhecido por Jacques de La Palisse, que também pode ser grafado La Palice. «Lapalissada» designa uma evidência, um truísmo, que terá ficado a dever-se à letra de uma canção composta pelos seus soldados depois da sua morte em batalha, cujo último verso seria: «S'il n'était pas mort, il ferait encore envie»; literalmente, «Se ele não estivesse morto, ainda faria inveja [aos vivos]» e que terá sofrido duas corruptelas:«ferait» ter-se-á transformado em «serait», por causa do «s» longo que se confundia com o «f», e «envie» ter-se-á transformado em «en vie», resultando em: «S'il n'était pas mort, il serait encore en vie», isto é, «Se não estivesse morto, ainda estaria vivo».

No caso, a confusão resulta, por certo, da consideração apenas de «Palice» («palissada») em vez de «La Palice» («lapalissada»).

sábado, 30 de abril de 2016

54. Há e À


«A mim, e só a mim me vincula este sentimento, um pouco paradoxal, se lutarmos até última jornada por este título [...]»
Eduardo Barroso  - «Eu voto não!». A Bola, 27 de abril de 2016, p. 36.

Em «até à última jornada», como em «até à data», ou em «até à noite de ontem», e frases similares, usa-se «à», ou seja, a contração da preposição «a» com o artigo definido «a». «Há» é uma forma do verbo haver, com o sentido de «existir», usada comummente em expressões de tempo, como em: «hoje há aulas», «fui ao Egito há 5 anos», «há já algum tempo que ele não estava bem». Estaria bem se a frase fosse: «Há algumas jornadas o Sporting estava à frente» ou «o Sporting podia ter passado para a frente há umas jornadas». É possível que advenha daqui a confusão...

sábado, 23 de abril de 2016

53. Haverão ou Haverá


Referindo-se a treinadores de futebol:
«Haverão exceções»... «Haverão exceções»
Play-Off, 3 de abril de 2016, 23h05 e 23h06.

A frase foi repetida por duas vezes. Ora, o verbo haver integra os verbos que designam uma ação ou situação à qual não pode ser atribuído um sujeito, tal como acontece com «anoitecer», «chover» ou «fazer» (com sentido de tempo decorrido). No sentido de «existir», «ocorrer», «acontecer», trata-se de um verbo impessoal, ou seja, que não tem sujeito, de onde se conjuga sempre na 3.ª pessoa do singular. Assim: «há pessoas que não sabem o que dizem»; «houve distúrbios na praça»; «haverá problemas»; e, claro, «haverá exceções»...

sexta-feira, 15 de abril de 2016

52. Retrosaria ou Estalagem


Fui ver Os oito odiados, o último filme de Quentin Tarantino. A ação passa-se no Oeste americano, pouco tempo depois da guerra civil, numa estalagem, também com uma componente de venda ou loja, como era comum à época, apelidada no filme de «Minnie's Haberdashery», e que é traduzida por Retrosaria da Minnie. Sendo esse o cenário da maior parte do filme a palavra é por várias vezes referida e por várias vezes o espetador estranha a designação: retrosaria!? É bem certo que «haberdashery» se pode traduzir por retrosaria, mas do que ali estamos a falar é de uma estalagem que acolhe os viajantes, e que me parece teria sido, claramente, a tradução preferível. Ou, quando muito, querendo enfatizar o carácter multímodo do local – e nalgumas (poucas) partes – percebe-se essa característica, designá-lo de venda, a Venda da Minnie, ou loja, a Loja da Minnie. Retrosaria, ademais com o sentido restrito que o termo tem atualmente entre nós, é que não lembra ao demónio… Por sorte ou azar, os estalajadeiros são quase omissos, estando a «retrosaria» entregue a um dos personagens que toma conta dela, mas interrogo-me se, caso existissem e fossem referidos pela função/ocupação, o tradutor os designaria por «retroseiros»?!...

sexta-feira, 8 de abril de 2016

51. Teve ou Esteve


«A diferença teve obviamente na eficácia» 

A declaração do treinador do Braga foi suficientemente pausada para que ele pronunciasse «esteve» e não «teve», e se perceber ou percecionar a sílaba inicial («es-») ou resquício dela, o que não acontece. Não é muito crível que, se fosse na escrita, tal pudesse acontecer, como, aliás, a legenda demonstra, mas que até já li coisa semelhante, já…

A situação, neste caso, agrava-se, porque a ablação da sílaba inicial transforma o pretérito perfeito do verbo «estar» no pretérito perfeito do verbo «ter»...