sábado, 27 de fevereiro de 2016

43. Aquela ou Àquela


«Pelo que li, Jorge Ferreira está de consciência tranquila quanto aquela arbitragem que fez no jogo Paços [de] Ferreira-Benfica».
Pedro Marques Lopes, «A procissão e o mordomo Pereira», coluna «Brasão abençoado», A Bola, 26 de fevereiro de 2016, p. 43. 

Não é «aquela arbitragem» mas «àquela arbitragem». O árbitro Jorge Ferreira está tranquilo em relação a algo, no caso «a aquela» arbitragem, pelo que aqui teria ocorrer a crase, ou seja, a contração da preposição «a» com o determinante demonstrativo «aquela», originando «àquela». Basta, aliás, e por analogia, pensar que se se tivesse optado por «à» - nunca seria «a» - ter-se-ia igualmente de fazer a contração da preposição com o artigo...

domingo, 14 de fevereiro de 2016

42. Acessor ou Assessor


«Antes de ser acessor de Cavaco, David Justino foi ministro da Educação de Durão Barroso».
Público, 14 de fevereiro de 2016, p. 9.

Se o jornalista que legendou a imagem já tivesse sido assessor de imprensa, por certo não escreveria «acessor»… Assessor provém do latim «assessor, -oris», significando ajudante, auxiliar. Além de assessor de imprensa é comum falar-se de assessor jurídico, assessor parlamentar, assessor da administração, etc. 
A confusão advém, por certo, da grafia de palavra semelhantes como «acesso» ou «acessório», também provenientes do latim, mas com as quais«assessor» não tem qualquer ligação. 

41. Cocho ou Coxo


«A partir do momento em que acaba o ciclo dos primeiros quatro anos, ou o aluno sabe, ou vai andar cocho»
«Princípio da Incerteza», RTP3, 13-02-2015

Falava-se de exames, de ensino, de retenções, de dificuldades em Língua Portuguesa, da necessidade de ditados para conhecer e fixar a grafia e eis senão quando aparece esta legenda que ficou no ar ainda uns minutinhos, em que «coxo» é grafado «cocho»...
É evidente que lá deveria estar «coxo», no sentido de manco, ali significando alguém que irá ficar com aquela dificuldade. É desculpa - parca - o facto de «x» e «ch» terem o mesmo som e a existência da palavra homófona «cocho», com vários significados: tabuleiro para transportar a cal amassada, caixa onde gira a mó dos amoladores, bebedouro ou comedouro para o gado, de formato semelhante a um tronco escavado,  recipiente de cortiça para beber água, entre outros. 
Solução: fixar a grafia, conhecer a etimologia ou aplicar a regra de que depois de ditongo se usa genericamente «x» - como em ameixa, baixo, caixa, eixo, faixa, feixe, frouxa, paixão, peixe, trouxa.  

quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

40. Seguir ou Continuar



«Para já, Luís Ribeiro e Mica, mais dois atletas cedidos pelo Sporting, seguem em Huelva».
O Jogo, 31 de dezembro de 2015, p. 9.

O verbo «seguir» em espanhol traduz-se em português por «continuar». Aquele «seguir» é um «falso amigo» ou falso cognato. Os atletas cedidos pelo Sporting «continuam» em Huelva e não «seguem» em Huelva. É provável que a notícia tenha sido respigada de algum jornal espanhol e que isto resulte de uma tradução descuidada. Registe-se, porém, que nem o contexto foi suficiente para interpelar quem redigiu o texto, sinal de alguma contaminação lexical entre o espanhol e o português...

domingo, 27 de dezembro de 2015

39. Sobre ou Sob (2)


«aconselha-se [...] a não conduzir sobre o efeito do álcool»
Oficial da GNR, a propósito da operação Natal 2015.
3 às 16 Notícias, RTP3, 26 de dezembro de 2015, 16h05.

Já por aqui se abordou o tema. O que ali se queria dizer era «sob» - ou seja «debaixo de» - do efeito do álcool, e não «sobre». Como também já se disse as preposições «sob» e «sobre» são antónimas: «sobre» é «por cima de» e «sob» é «por baixo de». «Sob» provém da preposição latina «sub», «sobre» provém da preposição latina «super». «Sub-» como prefixo ou elemento de composição surge em palavras como: subaquático ou subterrâneo; e «sobre-» em palavras como sobreloja ou sobretaxa. Na dúvida, raciocina-se por analogia...

38. Tratam-se ou Trata-se (2)


«As polícias nacionais estão de mãos atadas, pois tratam-se de crimes supranacionais, onde quase sempre é impossível chegar à identidade dos criminosos [...]»
«Buraco negro». Expresso, Revista, 23 de dez. de 2015, p. 43.

Já por aqui se disse que o verbo «tratar», sempre que acompanhado da preposição «de», é impessoal, pelo que apenas se flexiona na 3.ª pessoa do singular. Na frase, não tem, pois, de concordar com «crimes». A frase correta teria de ser: 
«As polícias nacionais estão de mãos atadas, pois trata-se de crimes supranacionais [...]». 
Conjugado pronominalmente e com o sentido de «dizer respeito a», o verbo «tratar» emprega-se apenas na 3.ª pessoa do singular. Se a leitura pode - para alguns - encontrar ali um escolho, então o melhor será mesmo reformular a frase, por exemplo:
«As polícias nacionais estão de mãos atadas, pois estes são crimes supranacionais [...]».

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

37. Returno ou Regresso



«A revista “Variety” resume os seus sentimentos em relação ao episódio que cronologicamente se segue a “O Returno de Jedi” [...].

O filme da saga Guerra das Estrelas a que a notícia se refere é o O regresso de Jedi. Ainda se podia entender - numa tradução mais literal - que fosse O retorno de Jedi, do inglês Return of the Jedi. Agora o Returno de Jedi é que não lembra a ninguém. «Retorno» é «regresso», «returno» é um novo turno. É palavra com curso no Brasil, usada no socioleto do desporto com o significado de «segunda volta».