sexta-feira, 23 de setembro de 2016

83. Ultimo ou Último


«[...] e depois do ultimo titulo [...]»
Eduardo Barroso  - «A nossa terceira derrota de era Jesus». A Bola, 21 de setembro de 2016, p. 36.

É óbvio que a falta do acento em «ultimo» se trata de uma gralha. Mas que em certos contextos pode ser danosa. É que «ultimo» é uma forma do verbo «ultimar», ou seja, concluir, terminar algo. E «último» é, consoante as circunstâncias, um adjetivo ou um substantivo, significando o derradeiro, o final, o que vem no fim, o pior, ou ainda o mais recente, o mais novo, o de menor categoria.

P.S. - Assinale-se também, neste caso, o pecadilho de «titulo» em vez de «título».

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

82. Há ou À

 

«Estamos agora, há quinta jornada, em segundo lugar a um ponto do primeiro [...]»
Eduardo Barroso  - «A nossa terceira derrota de era Jesus». A Bola, 21 de setembro de 2016, p. 36.

Em «à quinta jornada», como em «até ao momento», «até à data» ou «até à tarde de ontem», e frases similares, usa-se «à», ou seja, a contração da preposição «a» com o artigo definido «a». «Há» é uma forma do verbo haver, com o sentido de «existir», usada comummente em expressões de tempo, como, por exemplo, em: «até há três anos, mas mais há ano e meio [...]», expressões que o mesmo cronista usa mais abaixo no mesmo texto*.


Curiosamente, e com a mesma proveniência, já aqui assinalámos igual erro, o que já pode configurar um padrão.

* Assinalem-se também, neste caso, os pecadilhos de «ultimo» em vez de «último» e de «titulo» em vez de «título».

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

81. Excepto ou Exceto

Foto: Paulo J. S. Barata (6 de setembro de 2016)

A mesma autarquia - Câmara Municipal de Tavira -, duas grafias... «Excepto», na grafia anterior ao Acordo Ortográfico de 1990, «exceto», na grafia atual, em Portugal... Calculo que os sinais que mantêm a grafia antiga já existissem, mas custava assim tanto mandar pintar aquela palavra novamente de modo a que na mesma cidade, e pior, no mesmo gradeamento, não coexistissem duas grafias?

terça-feira, 30 de agosto de 2016

80. Sob ou Sobre (4)


«[...] foi visível o desânimo do atleta [...] que, aos 27 anos, vê na possibilidade de representar o campeão de Inglaterra uma hipótese dourada para a sua carreira sobre todos os níveis».
O Jogo, 30 de agosto de 2016, p. 6.

Este é um erro recorrente. O que ali deveria estar era «sob», significando «debaixo de», por existir uma relação de subordinação dos níveis à carreira. Tal como acontece com as expressões «sob todos os pontos de vista» ou «sob todos os aspetos».
As preposições «sob» e «sobre» são antónimas: «sobre» reporta-se com frequência a uma posição de superioridade relativamente a algo («por cima de») e «sob» a uma posição de inferioridade ou subordinação («por baixo de»). 

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

79. Houveram ou Houve


Um antigo atleta olímpico, referindo-se aos Jogos de 2016:
«Mas também deixe-me realçar que houveram atletas em 4.º lugar, atletas em 5.º lugar, em 6.º [...]»
Opinião Pública, SIC Notícias, 22 de agosto de 2016, 11h16.

Houve atletas e não houveram atletas. O verbo haver, com sentido de existir, é um verbo impessoal e conjugado apenas na 3.ª pessoa do singular (houve), independentemente de o sujeito (atletas) ser plural.
A forma houveram, caída em desuso, é possível apenas quando o verbo haver se apresenta com o sentido de ter: «E no final, sob forte aplauso do público, os cantores houveram de bisar». 

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

78. Quaisqueres ou Quaisquer


Sobre um crime de violação de menor na Madeira, diz-se:
«há sensivelmente dois anos, ao Carlos foi entregue uma casa com todo o conforto, já que vivia numa espécie de casebre sem quaisqueres condições [...]».
Notícias 24, TVI 24, 21 de agosto de 2016, 10h12.

Na língua portuguesa, a regra de formação do plural manda acrescentar um -s final à palavra no singular, no caso dos substantivos terminados em vogal, ou -es no caso dos substantivos terminados em -r.  Porém, o caso dos pronomes ou determinantes indefinidos «qualquer/quaisquer» constitui uma exceção a esta regra, pelo que «quaisqueres», como na frase acima, está errado. 
«Qualquer» e «quaisquer» são palavras formadas por justaposição, ou seja, que resultam da união de duas palavras formando uma: qual + quer, originando «qualquer», ou quais + quer, originando «quaisquer», sem que se registe qualquer alteração. Porém, e se se reparar bem, em «quaisquer», há já a flexão em número, de qual para quais, mas no primeiro elemento e não no segundo, como é normal.

domingo, 7 de agosto de 2016

77. Saíu e Saiu


«Tenho apenas uma irmã, a Paula, um pouco mais velha que eu. Apesar de vivermos há quase 40 anos a 300 km um do outro – a minha irmã não saíu de Lisboa [...]»
Entrevista a João Semedo, Público, 7 de agosto de 2016. 

A terceira pessoa do singular do pretérito perfeito do verbo sair é «saiu» e não «saíu». Admito que a confusão seja com a terceira pessoa do singular do pretérito imperfeito que é «saía» e não «saia» (primeira pessoa do singular do presente do conjuntivo).