sábado, 30 de abril de 2016

54. Há e À


«A mim, e só a mim me vincula este sentimento, um pouco paradoxal, se lutarmos até última jornada por este título [...]»
Eduardo Barroso  - «Eu voto não!». A Bola, 27 de abril de 2016, p. 36.

Em «até à última jornada», como em «até à data», ou em «até à noite de ontem», e frases similares, usa-se «à», ou seja, a contração da preposição «a» com o artigo definido «a». «Há» é uma forma do verbo haver, com o sentido de «existir», usada comummente em expressões de tempo, como em: «hoje há aulas», «fui ao Egito há 5 anos», «há já algum tempo que ele não estava bem». Estaria bem se a frase fosse: «Há algumas jornadas o Sporting estava à frente» ou «o Sporting podia ter passado para a frente há umas jornadas». É possível que advenha daqui a confusão...

sábado, 23 de abril de 2016

53. Haverão ou Haverá


Referindo-se a treinadores de futebol:
«Haverão exceções»... «Haverão exceções»
Play-Off, 3 de abril de 2016, 23h05 e 23h06.

A frase foi repetida por duas vezes. Ora, o verbo haver integra os verbos que designam uma ação ou situação à qual não pode ser atribuído um sujeito, tal como acontece com «anoitecer», «chover» ou «fazer» (com sentido de tempo decorrido). No sentido de «existir», «ocorrer», «acontecer», trata-se de um verbo impessoal, ou seja, que não tem sujeito, de onde se conjuga sempre na 3.ª pessoa do singular. Assim: «há pessoas que não sabem o que dizem»; «houve distúrbios na praça»; «haverá problemas»; e, claro, «haverá exceções»...

sexta-feira, 15 de abril de 2016

52. Retrosaria ou Estalagem


Fui ver Os oito odiados, o último filme de Quentin Tarantino. A ação passa-se no Oeste americano, pouco tempo depois da guerra civil, numa estalagem, também com uma componente de venda ou loja, como era comum à época, apelidada no filme de «Minnie's Haberdashery», e que é traduzida por Retrosaria da Minnie. Sendo esse o cenário da maior parte do filme a palavra é por várias vezes referida e por várias vezes o espetador estranha a designação: retrosaria!? É bem certo que «haberdashery» se pode traduzir por retrosaria, mas do que ali estamos a falar é de uma estalagem que acolhe os viajantes, e que me parece teria sido, claramente, a tradução preferível. Ou, quando muito, querendo enfatizar o carácter multímodo do local – e nalgumas (poucas) partes – percebe-se essa característica, designá-lo de venda, a Venda da Minnie, ou loja, a Loja da Minnie. Retrosaria, ademais com o sentido restrito que o termo tem atualmente entre nós, é que não lembra ao demónio… Por sorte ou azar, os estalajadeiros são quase omissos, estando a «retrosaria» entregue a um dos personagens que toma conta dela, mas interrogo-me se, caso existissem e fossem referidos pela função/ocupação, o tradutor os designaria por «retroseiros»?!...

sexta-feira, 8 de abril de 2016

51. Teve ou Esteve


«A diferença teve obviamente na eficácia» 

A declaração do treinador do Braga foi suficientemente pausada para que ele pronunciasse «esteve» e não «teve», e se perceber ou percecionar a sílaba inicial («es-») ou resquício dela, o que não acontece. Não é muito crível que, se fosse na escrita, tal pudesse acontecer, como, aliás, a legenda demonstra, mas que até já li coisa semelhante, já…

A situação, neste caso, agrava-se, porque a ablação da sílaba inicial transforma o pretérito perfeito do verbo «estar» no pretérito perfeito do verbo «ter»...

quarta-feira, 6 de abril de 2016

50. Melhor ou Mais bem


«Os doentes nesses centros [de referência] são melhor tratados […]»; «[…] os profissionais, altamente diferenciados, que estão nesses centros […], são as pessoas melhores preparadas não só para investigar mas também para poder ensinar […]»

Um médico e cirurgião oncológico referiu, numa curta intervenção televisiva, e por duas vezes, as expressões: «melhor tratados» e «melhor preparados». Na segunda vez – pior – até tentou fazer concordar o «melhor» com o sujeito, as «pessoas melhores» para aquela função, o que deveria fazer soar o alarme para este uso espúrio de «melhor».

«Melhor tratado» tal como «melhor preparado» são expressões que continuam a ser usadas com frequência no que me parece ser uma clara manifestação de hipercorreção. E não estão sequer corretas. Melhor é grau comparativo e superlativo de bem quando modifica o verbo em tempos simples, tal como acontece com as frases: «Os centros de referência tratam melhor os doentes do que os hospitais comuns» ou «Os centros de referência portugueses são os melhores da Europa». Mas a anteceder o particípio passado deve-se usar «mais bem», de onde as frases acima transcritas deveriam ficar:
«Os doentes nesses centros [de referência] são mais bem tratados […]»; «[…] os profissionais, altamente diferenciados, que estão nesses centros […] são as pessoas mais bem preparadas não só para investigar mas também para poder ensinar […]».
Se, aliás, pensarmos como foram formados os adjetivos bem-parecido, bem-educado, bem-comportado, bem-visto e tantos outros, em que o elemento bem- integra a sua composição, poderemos, por analogia, eliminar as dúvidas que subsistam relativamente ao uso de melhor e de mais bem.

domingo, 3 de abril de 2016

49. Penaltis ou Penáltis


«[…] a prolongamento ou a penaltis».

TVI24, 24 de março de 2016, 8h41.

Não é assim tão «grave» mas a palavra penálti é uma palavra grave, isto é, com acento tónico na penúltima sílaba. Segundo as regras da acentuação, as palavras graves terminadas em i têm acento gráfico na sílaba tónica, pelo que, naquelas legendas, reproduzindo as declarações do treinador Quinito na homenagem da Associação Nacional de Treinadores de Futebol, teria de ser grafado «penáltis» e não «penaltis».

Foi a angústia do jornalista no momento do penálti…